sábado, 20 de outubro de 2012

O anverso da silhueta

               Kathylene sentou-se no ônibus que ia pro Alcântara, sentiu uma palpitada e um leve tesão, porque tava nervosa não sabia com o quê. Desceu do ônibus no Terminal mesmo meio sem saber aonde ir, aquele labirinto agoniante cujas paredes eram pessoas instáveis, que ora existiam cada qual como elemento de interrupção da passagem, ora como seres que chegam em casa e têm família, bichos, vizinhos… mas aqueles só existem enquanto manifestam sua presença, e só o sabem fazer no Terminal incomodando. Pior que Kathylene tava se sentindo vulgar como eles, mesmo sendo uma primeira-pessoa. Talvez isso tenha criado a confusão naquela mentezinha tão acostumada com a rotina alienada. Mas ao ponto d’se sentir desprovida de essência humana. ¿Será que era só cansaço? Acho que ela tá cansada é de ser uma macaca; humano é um macaco grande que nem sempre sai de sua condição animalesca. É claro que ela não é só outro macaco, como ninguém é na verdade. Todo macaco humano percebe em algum momento suas exorbitantes aptidões extra-macacas. Bom, mas a Kathylene queria mesmo era vomitar essa catarse bem destrutivamente, que destruísse tudo ao seu redor. Foda-se essa merda chata pa caray, eu quero não só entender as coisas, mas viver. Interessante eu retomar/retornar à psique como primeira pessoa devidamente. Agora que eu já tenho alguma autonomia vou tentar controlar essa impotência e dar sentido à vida. A primeira coisa que eu vou fazer quando chegar em casa é me masturbar.

Autor: Flávio (20/10/2012)

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